domingo, 7 de março de 2010

Resenha de Maravilhosa Bíblia por Jaquelyne Ferreira

ALIANÇA BÍBLICA UNIVERSITÁRIA DO BRASIL REGIÃO NORTE
10 JAN. 2010

JAQUELYNE FERREIRA

RESENHA: Eat this book???

Peterson, Eugene H. Maravilhosa Bíblia: A arte de ler a Bíblia com o Espírito. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2008.

Atualmente, temos fácil acesso à Bíblia no Brasil e em vários países (fiquei sabendo da dificuldade de se encontrar uma Bíblia à venda em livrarias ou lojas do Japão!), são vários tamanhos, traduções e cores (confesso minha preferência pela tradução de João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada). O fato de ela estar tão à disposição de seus leitores ocasiona, muitas vezes, de a Bíblia ser lida como se lê um outro livro qualquer, um jornal, um folhetim ou uma revista de fofocas. Eugene H. Peterson, em seu livro Maravilhosa Bíblia, tenta, de forma muito “gostosa”, nos trazer de volta À leitura espiritual (lectio divina) da “palavra” de um Deus que revela e se revela, que faz de nossa história parte da sua própria e que nos dá condições de sermos, também, tradutores deste “best-seller”!
Um dos aspectos deste livro que ajudaram a tornar a leitura menos exaustiva foi a linguagem usada pelo autor, as comparações que fez logo no início do livro nos familiarizou com ele. O exemplo do cão roendo o osso que encontrou a reverência e inocência do pequeno neto do próprio autor ao “ler sem ler” a Bíblia. E, afinal, o convite que nos é feito a comer este livro nos remete a um fato peculiar: Jesus à mesa, partilhando de um momento tão íntimo, com “pecadores” (Lc 15.2). Mais interessante que Eugene H. Peterson convidar à refeição um completo desconhecido é saber que esse alimento pode causar certa azia... Pelo menos foi o que João sentiu depois que comeu o livrinho que tomou da mão do anjo em Apocalipse. A leitura espiritual exige receptividade, imaginação e participação por parte de quem lê, medita, “metaboliza” (amei esse termo!)> vive o que leu.
A letra mata, mas o espírito vivifica (2 Co 3.6). Uma Bíblia aberta na minha estante em algum Salmo ou guardada em minha escrivaninha não tem valor algum... devo , no ato de minha leitura, fazer com que as palavras contidas no papel saiam dele e tomem vida, sejam “metabolizadas” no meu organismo. Sabendo que essas palavras podem não cair tão bem assim no meu estômago - o lugar onde retenho tudo aquilo que “como”. Nesse ponto, entra a questão de querermos adequar as palavras contidas na Bíblia às nossas necessidades santas, aos nossos desejos santos e aos nossos sentimentos santos (a chamada trindade substituta, de acordo com E. H. Peterson) podendo incorrer no risco de nos assemelharmos a Procusto, um “mala” da mitologia grega que possuía uma cama de ferro, que tinha seu exato tamanho, e fazia com que suas vítimas se deitassem nela, se fossem mais baixos que ele, Procusto os esticava até que atingissem o comprimento suficiente, e se fossem demasiados altos, ele amputava o excesso de comprimento para ajustá-los ao seu padrão. Quantas vezes eu mesma já quis adequar um trecho bíblico a alguma situação sem analisar adequadamente o seu contexto...
O mesmo Espírito que atuou nas pessoas que escreveram os documentos originais que compõem a Bíblia esteve também, presente naqueles que a traduziram, tanto aqueles que fizeram traduções escritas para serem usadas por nós hoje como aqueles que as traduzem cotidianamente para grupos de pessoas com tradições linguístico-culturais que em muito se distanciam do contexto em que as Escrituras foram feitas.
Ora, se Deus age por meio da palavra (Gn 1.1-4), se A Palavra é Jesus que continua a nos falar (Jo 1. 1 e 14; Ap 19. 13) e Deus nos fala pelo Filho (Hb 1.2), temos plena certeza - mediante a fé que o Espírito Santo de Deus coloca em nós- de que Jesus Cristo continua chamando pessoas para falar (chamado e envio). Somos chamados a falar de julgamento para os que confrontam e desprezam a sua palavra e a falar de paz e liberdade para os que se reconhecem pecadores e dependentes da sua graça. Temos o desafio do falar cristão num mundo cada vez mais caótico – mas que ainda é a criação de Deus (criação que o Criador “cria e atura), criação que podemos começar a chamar de nova pelo fato da encarnação da Palavra através da qual tudo foi (re)criado- e para tornar real esse testemunhar, devemos intensificar o convívio com não cristãos, sair da zona de conforto. Deus nos abençoa para que cheguemos aos outros e mostremos quão profunda e doce (e por que não, amarga ao estômago também???) é a mensagem do evangelho (Sl 67).

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